Um dia como outro qualquer

Meu celular toca, hora de levantar. Desço as escadas, passo o café. Leio a Bíblia, tomo o café, paro. As meninas acordam, faço o café da manhã delas, coloco pra assistir tv ou brincar lá fora. Roupa na máquina. Leio um livro, paro, rezo o terço, paro, faço o almoço, lembro da música que estava ouvindo ontem, coloco enquanto cozinho. Paro. Dou o almoço, lavo a louça, leio algumas páginas de um outro livro, varro a casa e passo um pano. Meu celular toca: hora do curso! Sento, leio, escrevo, escuto, reflito, escrevo mais um pouco. Paro. Outro livro, desta vez quase acabando. Paro. Café da tarde, hora da história: algo sobre a minha vida pra elas. Às vezes gostam, às vezes não. Às vezes ficam pensativas, outras vezes nem ligam. Lavo toda a louça. Volto para o primeiro livro que estava lendo de manhã. Paro. Roupa para a outra máquina. Hora da janta: fazer ou pedir? Folheio o que escrevi durante o curso e tento ler alguma notícia do dia no Instagram. Menina de 4 anos é morta pela mãe, policial assaltado é morto com seis tiros, ex-atriz pornô vira pastora, namorado surta e mata a namorada e a irmã dela, o governo quer abrandar a pena de quem ‘apenas’ rouba. Chega, não aguento essa realidade. Paro e volto para a cozinha. As meninas estão com fome. Faço algo rápido e volto para a leitura, só que de outro livro. Paro. Olho para a lista de livros a serem lidos em 2025. Já li 4 e estou terminando o quinto, mas nenhum deles consta na lista. Por que sou assim?

Hora do banho e cama. Ao deitar, dou continuidade ao livro do ano: Os Miseráveis. O livro do ano é sempre um livro colossal que leio somente à noite, antes de dormir, e deve durar os 365 dias do ano. DEVE! Do contrário, entro em curto. Pego o total de páginas, divido por 365 e sigo rigorosamente a quantidade de páginas a ser lida. Ano passado foi Um Defeito de Cor, em 2023 foi Ulysses e em 2022 foi Dom Quixote de La Mancha, versão original em espanhol. Para o ano que vem, Anna Karenina.

Muitas coisas me desestabilizam: quando interrompem minha leitura, quando surge um som alto enquanto estou pensando, quando faço um planejamento e não consigo segui-lo. Tenho problemas com horários, preciso ser pontual e que sejam comigo. Oito são oito, não 7h55 e muito menos 8h05. Mas acontece de eu atrasar, e meu coração acelera e fico mal o dia todo porque atrasei. Cinco minutos. Cinco minutos que podem transformar o restante das 16 horas que ainda me restam um total desastre, dentro da minha cabeça que externam e instauram o caos.

Não gosto de abraços, não sei sorrir se algo não está engraçado e notícias me assustam: são assuntos não resolvidos a tempo e agora o estrago está feito. Prefiro os livros.


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